20 de ago. de 2012

VOCAÇÃO RELIGIOSA
Segunda-feira, 20 de agosto de 2012, 11h05

Religiosa fala sobre chamado vocacional e amor à comunicação

Kelen Galvan
Da Redação


Arquivo pessoal
Irmã Rosa Maria é consagrada há 20 anos e atua como assessora executiva para a comunicação na CRB Nacional
Deixar tudo para seguir a Cristo e servir os irmãos. Essa é a missão daqueles que são chamados por Deus à vida consagrada.

Durante esta semana, a Igreja Católica recorda todos aqueles que se dedicam à essa vocação, encontrada na vida monástica, ordem das virgens, eremitas, viúvas, vida contemplativa, vida religiosa apostólica, institutos seculares e sociedades de vida apostólica, conforme explica o subsídio para o mês vocacional.

Para celebrar a data, o noticias.cancaonova.com entrevistou Irmã Rosa Maria Martins Silva, de 43 anos, dos quais 20 como religiosa na Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo - Scalabrinianas. Atualmente ela realiza um trabalho diferenciado como jornalista e Assessora Executiva para a Comunicação da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB Nacional).

Irmã Rosinha, como é conhecida pelos colegas, conta como foi seu chamado, um pouco de sua trajetória como consagrada, seu trabalho com os migrantes e seu amor pela área da comunicação. 


Leia a entrevista na íntegra:
noticias.cancaonova.com - Como foi seu chamado vocacional? 

Irmã Rosa Maria:
 Cresci numa família muito católica, de 11 irmãos. Papai e mamãe nos reunia toda noite para rezarmos o terço juntos. Faltar às Celebrações Eucarísticas, nunca. Se colocar a serviço dos mais necessitados, sempre. Me recordo ainda com meus 9 ou 10 anos, perambulando pelas ruas da minha cidade pedindo esmolas para ajudar comunidades ou famílias carentes. Era a alegria da minha vida.

Penso que esta base religiosa me preparou para responder a um chamado que mais tarde, Jesus me faria. O chamado senti nas Missas dominicais quando o padre, sempre através do Evangelho, contava uma história de Jesus, o que Ele fazia, sua bondade, seus milagres, sua defesa daqueles que tinham a dignidade ferida: os pobres, os marginalizados, as mulheres, os cegos, os leprosos (lágrimas). Numa dessas Missas, vi uma senhora com uma veste azul, evidentemente era uma freira. Puxei a blusa da mamãe e falei baixinho ao ouvido dela: “mamãe, quero ser como aquela mulher lá”. E sempre persegui este propósito, do qual não tirei mais os olhos.

noticias.cancaonova.com - Quando pensamos em religiosas, as imaginamos trabalhando com crianças, idosos... mas encontramos irmãs como a senhora, jornalista, atuante na área da Comunicação. Como é essa realidade?

Irmã Rosa Maria: O que fundamenta a minha escolha por esta área é a certeza de que não há evangelização, não há encontro com os mais pobres e excluídos, não há testemunho sem a comunicação. Para falar de Deus e experienciá-Lo, precisamos aprender a ouvir a mensagem, a ser mensagem, a transmiti-la.

Esse é o grande mérito da Comunicação no processo evangelizador: Dela depende a eficácia e a eficiência da nossa missão. Um cristão que não sabe ouvir, que não sabe “escutar com os ouvidos e com o coração”, não evangeliza, não transmite a Mensagem (Jesus Cristo). Já conhecemos o ditado de que o Meio é a Mensagem. Em se tratando de Cristianismo, de evangelização, o meio mais eficaz para a transmissão da mensagem sou EU. Daí a importância de escutar Deus na oração, nas realidades que nos cercam, no grito dos sofredores, dos oprimidos da história para dizer ao mundo quem Deus é, quem o Pai do céu é.

E evidentemente os Meios de Comunicação: o rádio, a TV, o Jornal, a internet, são espaços poderosos para quem vive nessa dinâmica da evangelização. Podemos e devemos aproveitar esses meios para que Aquele no qual acreditamos e D’ele fizemos a razão maior de nossa existência, possa ser mais conhecido, servido e amado.

noticias.cancaonova.com Em que áreas a senhora já trabalhou até chegar no que faz hoje?

Irmã Rosa Maria: Tenho 20 anos de Vida Consagrada e 43 de idade. A maior parte destes trabalhei na rede scalabriniana de educação, mas atuei na periferia de São Paulo, em áreas de risco, trabalhando com migrantes. Experiência que não me esqueço jamais: Deus está em todo lugar, mas de maneira muito especial ele se encontra onde a dignidade do ser humano se vê perdida. E isso é maravilhoso.

noticias.cancaonova.com - A congregação da senhora não faz o uso do hábito, utilizando roupas do cotidiano. Esse jeito de se vestir atrapalha ou ajuda na sua missão?

Irmã Rosa Maria: Quando entrei, se recordam a fala anterior eu queria ser como aquela mulher de roupa azul? (uma religiosa de hábito). Quando entrei na Congregação e comecei a estudar a nossa missão que é o exercício da compaixão para com aqueles que são obrigados a deixar a sua terra em busca da sobrevivência, os migrantes, os ciganos, os circenses, pessoal da aviação civil, marinheiros, expatriados, imigrantes, comecei a entender que só uma coisa me era necessária: um coração grande, bem grande, um ouvido largo, braços imensos, para acolher escutar e guardar esses queridos de Deus. O hábito nesse sentido se tornou secundário. Acho lindo o hábito, mas acho que usar roupas comuns facilita, em muitos casos, o trabalho missionário, porque nos aproxima mais das pessoas.

noticias.cancaonova.com -
 No trabalho que a senhora exerce na CRB lida com religiosas (os) de várias congregações diferentes. Como a senhora percebe a riqueza dessa diversidade de carismas na Igreja?

Irmã Rosa Maria: “O Espírito sopra onde quer, como e quando quer”. Essa expressão me é muito valiosa porque Deus é o sumo bem. Ele é o Equilíbrio e por isso fez tudo tão perfeito e para restabelecer a harmonia entre os seres, Ele providencia formas, fala às pessoas nas mais diversas realidades e as convida a ajudar nesta afinação do universo.

Bacana. É assim que surgem as mais variadas formas de ajudar o mundo a ser conforme o sonho de Deus: uns lutam pela dignidade das crianças, outros pela prevenção do tráfico, outros para defender os migrantes, outros para proteger os idosos. Nosso Deus é criativo e de maneira muito amorosa Ele chama e dá o dom, a força necessária para que a pessoa que foi chamada a restabelecer a ordem nessa realidade da história consiga alcançar o objetivo.

Bendito o fundador, bendita a fundadora que ouviu o chamado de Deus e naquele período da história harmonizou algumas realidades, mas diria, mais bendito, bendita, louvado e louvada seja aquele e aquela que respondendo ao chamado de Deus, tem a coragem de, neste mundo de hoje, remar contra a corrente e acreditar que a ordem, a harmonia, a sinfonia do universo, a recuperação da dignidade perdida é possível. Parabéns a você, pai, mãe, leigo, leiga, consagrado, consagrada que acredita neste projeto de Deus e não poupa tempo na luta para torná-lo realidade.

0 comentários:

Postar um comentário

Fique ligado - Jubileu 16